01. Qual sua profissão? É casado? Tem filhos?
Sou professor universitário, pesquisador e atuo
como psicólogo clínico e organizacional. Minha formatura em psicologia foi no
ano de 1998 na URI de Santo Ângelo no Rio Grande do Sul. Comecei o mestrado
após vir morar em Florianópolis em 2000. Conclui o mestrado em 2002 na UFSC
(Universidade Federal de Santa Catarina). Com o nascimento do meu filho Kaio
Yan em 2001, acabei me fixando na capital catarinense e desisti do doutorado na
USP em São Paulo. Em 2004 comecei o doutorado na UFSC que concluí em 2008. No
final de 2007 me separei da mãe de meu filho.
02.
Há quanto tempo você cria Periquitos?
Crio periquitos a 28 anos. Meu primeiro casal foi
presente de natal e aniversário no mês de dezembro de 1984. O macho era um
cinza normal e a fêmea uma ADA violeta quase branca.
03. Como,
quando e porque começou há criar?
Sempre adorei animais e costumava frequentar a biblioteca
da escola para ler sobre eles. Quando visitava meus parentes no campo, desde
pequeno, vivia correndo atrás das aves. Quando tinha dois anos minha mãe
mantinha um galinheiro muitíssimo limpo.
Minha matéria preferida era ciências e minha
professora um dia, enquanto dava uma aula sobre peixes, comentou ter um aquário
grande em casa. Perguntei a ela se poderia visitá-la para ver os peixes e a
resposta foi positiva. Chegando lá pude ver um aquário muito bem cuidado. Ela
mantinha lindos espadas, prateados, vermelhos com cauda preta. Alguns todos
vermelhos. Mas, a grande surpresa foi que o pai dela, o Sr. Clementino
Jaskulski, militar aposentado, tinha uma enorme coleção de aves silvestres. Ele
se empolgava em mostrar um currupião, um rei dos bosques, um galo da campina,
sairas diversas, gaturamos, sabias pretos, brancos, pocás e laranjeiras. Havia
trinca-ferros, coleirinhos diversos, canários da terra, pintasilgos, cardeais
amarelos, cardeais vermelhos, curiós e até bicudos. Ele gostava de criá-los em
cativeiro e naquela época tinha muito sucesso com os cardeais vermelhos e
amarelos e com os curiós e bicudos. Além das aves silvestres, ele criava
canários, calafates, rouxinois do Japão, pintassilgos europeus e algo
fantástico, totalmente inédito naquela época, que eram os periquitos ingleses.
Minha reação ao ver as aves fez esquecer automaticamente os peixes e quando
cheguei no viveiro onde estavam os periquitos, fui tomado de uma paixão a
primeira vista. A movimentação, o vôo e a agilidade dos periquitos aliada a
toda a beleza que mostravam foi impressionante demais. O Sr. Clementino tinha
maravilhosos ADAs, ARs, inos, rendados e fulvos entre normais e faces amarelas.
Foi dele quem comprei meu primeiro casal de periquitos em 1984. Depois de
alguns meses me desfiz do casal. Pequei um casal de canários dos quais não
gostei e acabei captando o macho de volta e mais alguns periquitos comuns e a
partir dai comecei a reproduzi-los em cativeiro. Meus primeiros periquitos
ingleses nasceram do macho cinza acasalado com uma fêmea ADA asa canela que me
deu maravilhosos faces amarelas asas cinzas de corpo cheio. Lembro como se
fosse um sonho de um macho face amarela asas cinzas cinza (ele era um asa cinza
de corpo cheio) que possuía uma plumagem muito brilhante, provavelmente tinha
fator violeta.
04. Vc tem preferência por cores?
Na realidade não tenho preferência por uma cor
específica porque todas me encantam muito pela beleza que apresentam.
Entretanto, tenho alguns projetos: produzir ADs e fulvos de alta qualidade e
também rainbows a partir de golden-faces sem perdas de qualidade. O projeto dos
ADs já começou e estão nascendo filhotes agora. Os demais vão ter que esperar
um pouco mais, embora, já tenha material genético no plantel.
No meu terceiro e mais novo plantel está
surgindo uma linhagem de opalinos muito grandes e que estão me impressionando
muito. Meus normais tem bom porte e boa plumagem, mas, não são tão grandes
quanto os opalinos.
05.
Quantos casais você tem no seu Criadouro?
Hoje tenho em média 20 casais. Mas, a projeção é
criar com 40 casais em sistema de rodízio durante o ano todo.
06. Como
está sendo o inicio da temporada de cria esse ano para você?
Está sendo muito boa, com alta fertilidade. Só
comecei a reproduzir os periquitos em setembro e alguns casais agora em janeiro
estão chocando a segunda rodada. Alguns anos atrás estive julgando em Salvador
e meu amigo Dieter me falou algo novo. Comentou que a melhor época de
fertilidade dos periquitos inicia no mês de setembro. A partir dai sempre
inicio a criação nesta época evitando os invernos. Outra vantagem é ter aves
nascendo em janeiro que chegam em melhores condições nas exposições dos anos
subsequentes.
07. O que
mais te motiva na criação e porque?
É ver os filhotes nascendo, se desenvolvendo e
se tornando aves impecáveis e de qualidade. Ver por meio da lanterna que os
ovos de um maravilhoso casal estão férteis. Que os casais estão criando chocando
e criando bem. Que os machos que tenho no plantel jamais arrancam penas dos
filhotes, matam filhotes porque foram selecionados para serem bons pais. Que
toda a técnica aplicada com esforço está gerando bons frutos.
08. Que
cor você tem se destacado nos torneios e que na sua opinião se deve esse fato?
Como gosto muito de séries raras sempre me
destaquei com elas nos concursos. Em especial no meu segundo plantel produzi
excelentes ARs e ADs. Também no segundo plantel tive excelentes violetas que foram
muito bem selecionados para mostrar toda a beleza da cor.
Hoje no meu terceiro plantel tenho muito bons
normais e opalinos e, como é ainda um plantel novo estou trabalhando as
linhagens. O que leva ter excelentes aves é a seleção do criador. Trata-se uma
poderosa ferramenta e que só depois de vários anos pude me dar conta que
seleção é fundamental.
09. Como
você tem analisado as mudanças no padrão? Pq notamos que a cada ano tem uma
coisa nova?
Discordo que haja a cada ano uma coisa nova. O novo
padrão para os periquitos da WBO foi definido em 2008. O que acontece é a
evolução das aves e os melhores criadores devem estar abertos às mudanças. Uma
excelente linhagem de periquitos não se faz da noite para o dia. Exige tempo e
esse “deve” ser o encanto da criação de aves vivas. Imediatismos e pouco
conhecimento levam muitas pessoas a começarem criar e rapidamente desistirem da
criação. O desafio é fixar o que de novo aparece. Hoje temos um novo padrão de
penas da cabeça que foi aprimorado por Daniel Lutolf e já se encontra em
periquitos de diversos criadores germânicos. Todo mundo esqueceu de Jô Mannes,
mas ele foi o responsável direto pela fixação da mutação que deu volume a
fronte dos periquitos modernos. Na Europa o padrão ideal é produzir uma ave com
penas buff duplo na cabeça e médio buff no corpo, justamente para valorizar a
cor das aves.
10. De
que criadores se originam suas matrizes?
Negocio aves com diversos criadores, entretanto,
95% dos meus periquitos tem como pais ou avós, periquitos de Renato Uchoa. O
maior problema das aves do Renato, nos últimos anos, tem sido produzir muitos
cabeças sujas.
11. Na
sua opinião o que mais te chamou atenção no CB desse ano?
Não tenho participado dos CBs por motivos pessoais,
principalmente de trabalho.
12.
Para você que criador (es) mais tem se destacado na criação no Brasil?
Há vários criadores de destaque. Mas, o que tive
oportunidade de ver os planteis pessoalmente e poder comentar com segurança
foram, aqui no sul, os criadores de Chapecó/SC, Nadiomar Vicentini e André
Ramos e no nordeste, mais precisamente em Recife/PE, meu amigo Alexandre Lima.
Nas exposições destaque hoje para o criador de Venâncio Aires/RS, Carlos
Azeredo o CHA que debutou com excelentes fêmeas canelas. Em fotos, o equilíbrio
dos periquitos de meu caro amigo de São Paulo, Fúlvio Lucietto e os belíssimos
cintilantes de Luiz Américo Souza de MG.
13. Está
satisfeito com a evolução do seu plantel? Onde quer chegar?
Estou muito satisfeito com a evolução do meu
plantel e testando muitas aves vindas de fora. Dentro de seis meses todas devem
ter sido testadas e permaneceram apenas as que combinam com as linhagens que
construí e também com as novas linhagens
14.
Existem alguma cor que tens vontade de criar e ainda não crias? Qual? Porque?
Existe possibilidade de vir criar?
Amo novidades e também aves de cores tradicionais.
Como disse, tenho o projeto dos rainbows, porém, com alta qualidade e sou
apaixonado por periquitos com topete e também corpos claros dominantes de
Easley. Pretendo oportunamente produzir os rainbows e os topetudos devo
adquiri-los neste novo ano. Os corpo claros de Easley são um projeto a longo
prazo.
15.
Para você o periquito cria bem?
Os periquitos criam muito bem e diria, mesmo as
aves muito grandes podem ser excelentes criadeiras e fertilizar bem. Tudo é uma
questão de seleção do criador como já pude testemunhar várias vezes pelo Brasil
a fora. Nos meus quase trinta anos de criador, não só de aves, aprendi que é
possível não só selecionar cor, porte, plumagem, mas, o próprio comportamento
dos animais. É obvio que as aves devem ser nutridas adequadamente, livres de
doenças que possam interferir na reprodução. Um indício de que está tudo bem na
criação e quando as aves são examinadas e não mostram perda de peso enquanto
estão alimentando os filhotes. Esse é um dos indicadores de que a nutrição está
perfeita. Inclusive, não condeno a fertilização artificial nos periquitos, mas
prefiro pessoalmente evitá-la.
16. Qual o maior problema que você tem enfrentado na
criação de periquito?
No momento não tenho problemas dignos de nota, tudo
dentro dos padrões de qualquer criação normal.
17. Para
quem está pensando em começar com que conselho você pode dar?
Que não faça investimentos financeiros pesados em
aves antes de ter experiência e conhecimentos básicos que possam leva-lo a ter
sucesso na criação e nas exposições. Sempre participar dos torneios de
criadores para poder trocar experiências, acompanhar os julgamentos. Ver aves
de qualidade para poder comparar com o que possui no plantel e não ser
imediatista. Ter paciência e persistência. Adquirir lotes de aves de bons
criadores.
18. Você
se preocupa com as cores ou o que vc se preocupa na criação?
Tudo é motivo de preocupação, cabeça, máscara,
ombros, plumagem, cor, defeitos. Aprecio muito a cor dos periquitos, mas, se
não tiver o melhor padrão de plumagens e porte de nada vale o periquito. Ele
deve ser completo.
19. Como
você analisa a questão da importação da Europa?
Quando estava liberada, sem tantas exigências pelos
órgãos sanitários brasileiros, creio que auxiliava muito na introdução de novas
características aos nossos periquitos. Hoje há um novo tipo de periquitos nas
mãos dos criadores germânicos, como Daniel Lutolf, que se fosse introduzido
aqui em maior quantidade (pois já foi pelo Renato Uchoa) faria uma grande
diferença no plantel nacional.
20. Existe alguma regra, segredo ou dica que
para você faz diferença na criação?
Há vários fatores que fazem a diferença na criação.
Alimentação, genética e manejo geral do criador. Aqui entra higiene e vários
aspectos de cuidado e sanidade do plantel de periquitos. A primeira regra de
ouro é aliar conhecimento ao bom senso. A segunda regra de ouro é
especializar-se na criação de periquitos (evitar criar diversas espécies, pois,
cada uma vai exigir atenção especial). A terceira regra de ouro é se servir da
consanguinidade para fixar características de forma mais rápida e mante-las.
21. Que
tipo de acasalamento você nunca faz no seu plantel?
Evito cruzar séries raras entre si, ou séries
incompatíveis, apesar de que a combinação genética do casal é que fará a
diferença.
22. Qual
sua meta como criador? Onde quer chegar? Qual o caminho?
Como já afirmei antes, minha meta é criar aves
excelentes e perfeitas em todos os sentidos. Quero chegar a um plantel
homogêneo de alta qualidade e o caminho que sigo é a seleção rigorosa da
genética das aves
.